quinta-feira, 22 de agosto de 2019

As queimadas, os desmatamentos e a insanidade das redes

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Há alguns anos atrás, olhando as manchetes nas redes sociais me deparei com o título de uma matéria de um importante veículo de comunicação que dizia o seguinte: “As águas subterrâneas na bacia do Rio Doce estão contaminadas por metais pesados devido ao rompimento da barragem da Samarco”. Fiquei assustado por que acompanho todo este processo aqui de Governador Valadares desde 2015 e as informações técnicas que tenho acesso pelos órgãos gestores das águas e em nenhum momento foi abordado isto. Entrei na matéria para ler e, para minha surpresa, alguém abriu um poço freático a aproximadamente 500 metros do rio Doce e ao realizar a análise da água, descobriu elevadas quantidades de ferro e alumínio. A partir desta análise, alguém concluiu que estes elementos são metais pesados e que foram transportados pela infiltração dos rejeitos da Samarco. Fiquei chocado considerando que a composição mineralógica da região é esta e os nossos solos aqui são ricos em ferro, alumínio, manganês e que devido a fatores hidrogeológicos os elementos são disponibilizados nas águas, principalmente as subterrâneas. Em mais de 90% dos poços abertos na região, mesmo antes da tragédia do rio Doce em 2015, os níveis de ferro, alumínio e, em alguns casos também o manganês, são elevados necessitando, muitas vezes, da instalação de filtros.
Este é apenas um de dezenas de milhares de exemplos de notícias das redes sociais. Infelizmente, as redes sociais que deveriam servir como rede de informação estão atuando como rede de desinformação e fakenews. Estamos vivendo uma guerra entre a extrema esquerda e a extrema direita, principalmente nas redes sociais e as informações sérias, baseadas em fatos concretos e científicos estão sendo deixadas de lado. Até mesmo grandes pesquisadores estão sendo infectados pelo vírus da polarização ideológica. O foco agora é a Amazônia, suas queimadas e desmatamento.
Temos um histórico de destruição ambiental desde a época de nossa descoberta, assim como a própria Europa, Estados Unidos e outras partes do planeta, tudo em busca dos preciosos recursos naturais visando o desenvolvimento. O estimulo a ocupação do Cerrado na década de 70 e a construção da transamazônica na mesma década tinham estes objetivos, considerando que o Brasil descobriu a sua vocação para o agronegócio. O desmatamento sempre ocorreu na Amazônia, o que muda é a sua intensidade e formas efetivas de se avaliar para que ações governamentais sejam tomadas visando coibir um processo que, em algum momento, poderá tornar impossível a resiliência da floresta. Quando isto irá acontecer? Os especialistas descrevem deste a alguns anos até alguns séculos? Quem está certo? Quem é o dono da verdade? Ninguém. O que podemos afirmar é que, se nada for feito, em algum momento isto irá acontecer.
 Precisamos (e muito) de ajuda internacional para mantermos a maior floresta tropical do mundo de pé, mas sem abrir mão da nossa soberania e para isto, o diálogo é o melhor caminho. Este compromisso dos países desenvolvidos teve início na Rio92, formalizado no protocolo de Kyoto em 1997 e renovado a cada reunião mundial onde as nações se reúnem para discutir o clima no planeta. Conseguir equacionar os interesses econômicos, sociais, ambientais nestas reuniões não é fácil, mas é o caminho.
Falo durante as minhas aulas que ser formador de opinião não significa que o aluno deva aceitar a opinião única e exclusiva do professor em sala. E se ele for de extrema esquerda ou extrema direita?? Temos que ensinar as pessoas a pensar com base em informações reais e chegar as suas próprias conclusões. Isto vale para todos nós que buscamos informações nas redes. Bom senso, esta é a palavra!

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Agrotóxico: herói ou vilão (2a parte)


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Vamos continuar a discussão sobre agrotóxicos de forma que você leitor chegue a sua própria conclusão. O comparativo com os remédios é muito importante pois eles fazem parte do nosso dia a dia. Vamos ao médico, adquirimos e utilizamos os remédios, diferentes dos agrotóxicos onde a grande maioria da população nunca viu uma embalagem de agrotóxico, ou leu a sua bula ou viu uma aplicação (correta) no campo. Mas vamos continuar o nosso paralelo entre os remédios e os agrotóxicos.
Uma frase muito famosa diz que “a diferença entre remédio e veneno é a dose utilizada” e está certa na sua quase totalidade. Dependendo da doença as pessoas são obrigadas a utilizar remédios de elevada toxidade com uma série de efeitos colaterais no organismo. O médico irá avaliar o custo-beneficio do uso do remédio. Se continua ou se troca por outro, caso tenha no mercado, caso contrário, o cidadão deverá continuar com o remédio recomendado. Digamos que o remédio foi recomendado para ser consumido apenas um comprimido por dia e, em um momento de grande angustia e depressão o indivíduo resolve ingerir 20 comprimidos de uma vez e, por conta da intoxicação aguda foi a óbito. De quem é a culpa? Do médico que receitou o remédio? Do remédio devido a sua periculosidade ou do indivíduo que tomou 20 comprimidos por conta própria? O médico não tem como controlar o que seu paciente faz, se vai ou não tomar os remédios de acordo com a recomendação. Se o controle fosse neste grau, o indivíduo teria que se deslocar todos os dias para o consultório médico para pegar um único comprimido ou recebe-lo em casa, processo de baixa viabilidade. Neste caso a culpa não é do remédio mas do paciente que não cumpriu com o recomendado.
No caso dos agrotóxicos acontece a mesma coisa, mas com alguns agravantes. Como descrevemos no artigo passado, o agrotóxico não pode ser adquirido nas lojas sem o receituário agronômico emitido e assinado por um Engenheiro Agrônomo. Nele o produtor encontra todas as informações sobre como aplicar, onde aplicar, quando aplicar, a preparação da calda, os cuidados que deverá ter durante o preparo e a aplicação, dentre outros fatores. Diferente dos remédios que já vem nas concentrações certas para consumo, o agrotóxico é adquirido de forma concentrada e a calda deverá ser preparada na propriedade rural, sendo este o nosso primeiro grande problema. Pode ocorrer do produtor rural no campo preparar uma calda mais concentrada do que o recomendado, fato que pode gerar problemas de resíduo de produto químico na planta ou no fruto. Outro ponto problemático é o chamado período de carência, tempo necessário para que o produto químico atue sobre o alvo e seja degradado no ambiente sem deixar resíduos. Este tempo envolve o prazo da aplicação do agrotóxico até a colheita do produto, ou seja, um inseticida aplicado hoje no tomate e com período de carência de 10 dias, este tomate não poderá ser colhido antes dos 10 dias da aplicação, mas infelizmente isto não acontece. Muitas vezes no campo, devido a oscilação dos preços, o produtor colhe o fruto antes de terminar o período de carência, e a consequência disto é um fruto com resíduos de agrotóxicos na gondola do mercado. E a culpa disto? Do agrotóxico que não foi utilizado corretamente, da receita agronômica e do Engenheiro Agrônomo que receitou corretamente ou do produtor que não seguiu as regras do receituário agronômico? Como resolver isto? Veremos no próximo artigo.


sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Agrotóxico: herói ou vilão? (1ª parte)

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Acompanhamos nos últimos meses pelos noticiários que o ministério da agricultura liberou centenas de novas marcas de agrotóxicos para o mercado. Mas, o que isto significa? Quais as implicações para o nosso sistema de produção agropecuário, florestal, e para o meio ambiente? Por que os agrotóxicos são tão temidos pela sociedade? Para respondermos estas e outras perguntas precisamos entender questões básicas sobre a complexidade que envolve o agronegócio brasileiro, a preservação ambiental e a nossa saúde. Vamos começar como o nome oficial: agrotóxico. A palavra realmente é adequada pois se trata de um produto químico voltado para eliminar insetos, plantas invasoras, microrganismos e que realmente é tóxica ao homem se manipulado de forma errada. O nome assusta e intimida, induzindo as pessoas que lidam com os produtos a faze-lo de forma cuidadosa. Para os profissionais das ciências agrárias o termo defensivo agrícola é o mais adequado para estes produtos químicos.

Vamos agora realizar um paralelo entre remédios para uso humano e os agrotóxicos. Centenas de remédios de tarja vermelha e de tarja preta vendidos nas drogarias e farmácias só podem ser comercializados com a receita médica por conta de diversos fatores como sua toxidade ou por promover a resistência de bactérias e outros microrganismos ou por causar dependência química. Outras centenas de remédios podem ser comercializados sem receita médica devido a sua baixa toxidade, podendo qualquer cidadão consumi-los durante a auto medicação.  No caso dos agrotóxicos químicos sintéticos comerciais, não podem ser comercializados (em nenhuma hipótese) sem a emissão do receituário agronômico emitido por um Engenheiro Agrônomo que está prestando o assessoramento no campo ou pelo Engenheiro Agrônomo que trabalha na loja de insumos agropecuários. Neste receituário temos diversas informações como o nome do dono da propriedade, local de aplicação, cultura a ser aplicada, tamanho da área, dentre outras informações.

Quando você se dirige a uma farmácia ou drogaria para adquirir um remédio, com ou sem a obrigatoriedade da receita médica, o balconista oferece ao cliente a marca famosa e oferece também como opção o seu genérico. O remédio genérico tem a mesma composição química do remédio famoso, mas com a opção de ser de baixo custo. Existem casos de alguns genéricos serem 90% mais baratos quando comparados as marcas famosas. No caso dos agrotóxicos recentemente liberados no Brasil, a sua quase totalidade é composta de agrotóxicos genéricos, princípios químicos já existentes e largamente utilizados no país. Esta abertura, assim como para os remédios, coloca à disposição dos produtores rurais produtos de menor custo, gerando liberdade de escolha pelo produto mais barato.

No próximo artigo continuaremos com a discussão sobre os aspectos positivos e negativos dos agrotóxicos. Até lá.

A importância dos parques municipais nos centros urbanos