Vamos continuar a discussão sobre agrotóxicos de forma
que você leitor chegue a sua própria conclusão. O comparativo com os remédios é
muito importante pois eles fazem parte do nosso dia a dia. Vamos ao médico,
adquirimos e utilizamos os remédios, diferentes dos agrotóxicos onde a grande
maioria da população nunca viu uma embalagem de agrotóxico, ou leu a sua bula
ou viu uma aplicação (correta) no campo. Mas vamos continuar o nosso paralelo
entre os remédios e os agrotóxicos.
Uma frase muito famosa diz que “a diferença entre
remédio e veneno é a dose utilizada” e está certa na sua quase totalidade.
Dependendo da doença as pessoas são obrigadas a utilizar remédios de elevada
toxidade com uma série de efeitos colaterais no organismo. O médico irá avaliar
o custo-beneficio do uso do remédio. Se continua ou se troca por outro, caso
tenha no mercado, caso contrário, o cidadão deverá continuar com o remédio
recomendado. Digamos que o remédio foi recomendado para ser consumido apenas um
comprimido por dia e, em um momento de grande angustia e depressão o indivíduo
resolve ingerir 20 comprimidos de uma vez e, por conta da intoxicação aguda foi
a óbito. De quem é a culpa? Do médico que receitou o remédio? Do remédio devido
a sua periculosidade ou do indivíduo que tomou 20 comprimidos por conta
própria? O médico não tem como controlar o que seu paciente faz, se vai ou não tomar
os remédios de acordo com a recomendação. Se o controle fosse neste grau, o
indivíduo teria que se deslocar todos os dias para o consultório médico para
pegar um único comprimido ou recebe-lo em casa, processo de baixa viabilidade.
Neste caso a culpa não é do remédio mas do paciente que não cumpriu com o
recomendado.
No caso dos agrotóxicos acontece a mesma coisa, mas
com alguns agravantes. Como descrevemos no artigo passado, o agrotóxico não pode
ser adquirido nas lojas sem o receituário agronômico emitido e assinado por um
Engenheiro Agrônomo. Nele o produtor encontra todas as informações sobre como
aplicar, onde aplicar, quando aplicar, a preparação da calda, os cuidados que
deverá ter durante o preparo e a aplicação, dentre outros fatores. Diferente dos
remédios que já vem nas concentrações certas para consumo, o agrotóxico é
adquirido de forma concentrada e a calda deverá ser preparada na propriedade
rural, sendo este o nosso primeiro grande problema. Pode ocorrer do produtor
rural no campo preparar uma calda mais concentrada do que o recomendado, fato
que pode gerar problemas de resíduo de produto químico na planta ou no fruto.
Outro ponto problemático é o chamado período de carência, tempo necessário para
que o produto químico atue sobre o alvo e seja degradado no ambiente sem deixar
resíduos. Este tempo envolve o prazo da aplicação do agrotóxico até a colheita
do produto, ou seja, um inseticida aplicado hoje no tomate e com período de
carência de 10 dias, este tomate não poderá ser colhido antes dos 10 dias da
aplicação, mas infelizmente isto não acontece. Muitas vezes no campo, devido a
oscilação dos preços, o produtor colhe o fruto antes de terminar o período de
carência, e a consequência disto é um fruto com resíduos de agrotóxicos na
gondola do mercado. E a culpa disto? Do agrotóxico que não foi utilizado
corretamente, da receita agronômica e do Engenheiro Agrônomo que receitou
corretamente ou do produtor que não seguiu as regras do receituário agronômico?
Como resolver isto? Veremos no próximo artigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário