sexta-feira, 22 de março de 2019

Dia mundial de uma água que não existe mais

Resultado de imagem para poluicao das aguas


Grande parte da água do planeta, cerca de 97% é salgada e encontra-se nos mares, sobrando 3% de água doce. Destes 3%, cerca de 70% encontra-se nas calotas polares ou na forma de neve espalhada pelo planeta e os demais 30% na forma líquida. Destes 30%, 96% são águas subterrâneas e apenas 4% superficial em rios e lagos. Destes 4% o Brasil detém 12% de toda esta água doce superficial do planeta. Resumindo; temos muito de nada. Durante anos aprendemos na escola que o Brasil possui o maior manancial de água doce superficial do planeta com muitos rios e lagos. Para melhorar a análise 70% desta água está na bacia amazônica. Resumindo; temos muito de nada. Sempre vendemos uma imagem errada da disponibilidade de agua, desta forma, durante séculos, nunca nos preocupamos com o seu consumo. Mas nas últimas décadas a população aumentou, o consumo de água aumentou, a quantidade de água doce superficial reduziu e a sua qualidade piorou. A redução da sua qualidade ao longo dos anos tem acontecido de forma lenta e gradual, mas recentemente, a intensificação das atividades industriais, a ampliação dos processos de mineração no Estado, a ausência de uma legislação protetiva efetiva dos recursos hídricos e as tragédias com barragens que tem ocorrido promoveram não apenas uma redução da qualidade da água mas uma impossibilidade de seu uso considerando o grau de poluição aguda, principalmente com o rompimento das barragens de rejeitos.
No rastro deste impacto surgem os conflitos. Em 2015 com o rompimento da barragem de Mariana e a contaminação das águas do rio Doce, a maior cidade da bacia do Rio Doce em relação ao tamanho de sua população, Governador Valadares, totalmente dependente do rio Doce viveu um intenso conflito pela água. Em uma região de elevada temperatura e com poucas chuvas as pessoas ficaram sem água para até mesmo para beber. Alguém já viu caminhão pipa escoltado pela polícia? Alguém já viu idosos e crianças serem roubados nas ruas, mas não roubo de relógio, carteiras ou celulares, mas roubo de garrafas de água mineral com poucos litros?  Alguém já viu pessoas implorando aos militares, separados por uma tela de arame, um pouco de água porque estava fraco e com muita sede e sem ter onde buscar água para beber? Alguém já presenciou um rio com toneladas de peixes mortos exalando um mal cheiro insuportável por conta da decomposição destes animais?  
Dizem que o brasileiro tem memória curta mas quem vive a tragédia nunca esquece. Infelizmente deveríamos aprender com as tragédias como ocorre com os acidentes aéreos onde os peritos buscam as causar para que ela não se repita. No Brasil isto não acontece. Ocorreu em Mariana e a mesma tragédia aconteceu em Brumadinho. Na realidade, pior ainda pois morreram centenas de pessoas. Enquanto os poderes econômico e político predominarem no país, dificilmente mudaremos este quadro e os conflitos pela água tenderão a aumentar cada vez mais.

domingo, 3 de março de 2019

Os agrotóxicos são verdadeiramente vilões????

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Acredito que a grande maioria das pessoas já ouviu a seguinte frase: “o que distingue o remédio do veneno é a sua dose”. Se um médico prescreve um remédio controlado em determinada dose ela deve ser seguida para que o seu uso possa trazer benefícios. Temos os seus efeitos colaterais que, dependendo do paciente, podem surgir promovendo até mesmo a suspensão do seu uso. Caso seja utilizada dose abaixo do recomendado não teremos o efeito do remédio e se forem utilizadas muito acima do recomendado podem causar grandes danos à saúde ou levar até mesmo a morte. Neste caso quem seria o vilão da história? O médico que prescreveu o medicamento de forma correta, o remédio que está ali para melhorar e até mesmo salvar a sua vida ou o usuário que não utilizou da forma adequada? No caso do agrotóxico ocorre da mesma forma: o Engenheiro Agrônomo que recomenda; o produto químico que é adquirido no mercado e o produtor que deve utilizar na forma recomendada. Temos ainda um outro agravante: enquanto o remédio utilizado de forma inadequada pode comprometer a vida de uma pessoa, o agrotóxico utilizado inadequadamente pode comprometer e trazer sequelas a vida de milhares de pessoas que consumiram aquele alimento.
O Brasil é um país essencialmente agropecuário e o maior exportador mundial de produtos oriundos das atividades agropecuárias. Associados a isto temos um clima quente e úmido com o cultivo sendo realizado por todo o ano, diferente dos Estados Unidos e Europa que são limitados pelo clima, principalmente com os invernos rigorosos. Nestas condições podemos afirmar que é praticamente impossível cultivar extensas áreas e obter altas produtividades sem o uso de produtos químicos para controle de pragas, doenças e plantas invasoras. E mesmo com o uso dos agrotóxicos durante o sistema de produção das culturas, os produtos agropecuários do Brasil quando exportados, são rigorosamente analisados em relação a contaminantes químicos antes do desembarque no país de destino. Caso seja identificado algum produto acima do permitido a carga não entra no país. Ou seja, o agrotóxico é utilizado no campo e ao final, na colheita, o produto já deverá estar totalmente degradado, sem resíduos. Infelizmente não temos este mesmo controle rigoroso para a comercialização no mercado interno.
Nas pequenas propriedades rurais a implantação da agricultura ecológica, sem uso de agrotóxicos, é perfeitamente viável mas complexo, sendo importante a assistência técnica de um profissional da área para orientação pois diversos aspectos devem ser considerados como redução da produtividade das culturas, aspecto dos produtos e comprometimento da sustentabilidade financeira da família. Outro ponto importante está na fiscalização dos produtos orgânicos pois muitos agricultores vendem produtos como orgânicos mas que na prática foram cultivados de forma convencional. No próximo artigo vamos conversar sobre os verdadeiros problemas do uso de agrotóxicos para o pequeno e o grande produtor rural.