Mais um aniversário da tragédia do rompimento
da barragem de rejeitos de Mariana em Minas Gerais. Uma barragem com talude
alteado a montante (vergonha das leis e das pessoas que as fazem e que
autorizavam este tipo de talude de barragem), dezenas de milhões de metros cúbicos
de rejeitos de mineração fluindo por um vale com centenas de moradores e
trabalhadores da própria empresa, ausência de uma sirene de alerta sobre
rompimento e a consequência disto tudo: dezenove mortes, destruição total de
distritos, de barragens geradoras de energia elétrica, do meio ambiente e de
rios, incluindo o Rio Doce, e seus 870 quilômetros, além é claro, de grande extensão
do litoral do Espírito Santo. Em pleno período
seco (as chuvas ainda não haviam chegado, mas o calor já ultrapassava os 35
graus), centenas de milhares de pessoas sem água para saciar a sede. Briga pela
água distribuída, roubo de água nas ruas e caminhões pipa escoltados por carros
da polícia militar em Governador Valadares. O desespero e a loucura coletiva
instalaram na cidade. Com o Abastecimento suspenso, pessoas coletando água
contaminada do próprio rio Doce, colocando em tonéis para o rejeito decantar
para o fundo e utilizando a água sobrenadante. Outras coletando água de drenos de
dentro de córregos urbanos na cidade que são verdadeiros valões a céu aberto pois
recebem parte do esgoto da cidade. Lembrando que nas primeiras análises dos rejeitos
passando por Governador Valadares, os níveis de arsênio na água foram
extremamente elevados e o arsênio é um metal pesado altamente tóxico para os
seres vivos e para o homem. Devido ao excessivo calor e a falta de chuvas, a vazão
do rio estava reduzida e os peixes mortos e outros animais aquáticos iniciou-se
rapidamente a decomposição dos animais e o mau cheiro no rio tornou-se
insuportável. Resumo da vida das pessoas na maior cidade da bacia do Rio Doce:
um calor ardente, sem água, um ar com mau cheiro muito grande e os conflitos
pela água.
Quatro anos para não esquecer. Quatro anos para
relembrar todos os anos. Relembrar é sempre muito importante para evitar que
novas tragédias iguais aconteçam e que nossos políticos possam discutir melhor
as leis que regem a mineração no Brasil. Aprenderam com a tragédia de Mariana?
Não. Brumadinho está aí para provar que mudar leis não é fácil, mesmo com a destruição
da bacia do rio Doce e as mortes em consequência do rompimento em Mariana. Por
que esta dificuldade para alterar as leis? Será que podemos adivinhar? Deixo
para cada um. Com a tragédia de Brumadinho e mais de 250 mortes, parece que
acordaram e as leis foram alteradas. As próprias empresas de mineração estão tomando
providências porque elas próprias perceberam que passaram dos limites e como
está não pode ficar. No próximo artigo vamos conversar sobre o rio Doce. Como
ele está? Está tudo normal novamente? Acho que não.
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