Grande
parte da água do planeta, cerca de 97% é salgada e encontra-se nos mares,
sobrando 3% de água doce. Destes 3%, cerca de 70% encontra-se nas calotas
polares ou na forma de neve espalhada pelo planeta e os demais 30% na forma
líquida. Destes 30%, 96% são águas subterrâneas e apenas 4% superficial em rios
e lagos. Destes 4% o Brasil detém 12% de toda esta água doce superficial do
planeta. Resumindo; temos muito de nada. Durante anos aprendemos na escola que
o Brasil possui o maior manancial de água doce superficial do planeta com
muitos rios e lagos. Para melhorar a análise 70% desta água está na bacia
amazônica. Resumindo; temos muito de nada. Sempre vendemos uma imagem errada da
disponibilidade de agua, desta forma, durante séculos, nunca nos preocupamos com
o seu consumo. Mas nas últimas décadas a população aumentou, o consumo de água aumentou,
a quantidade de água doce superficial reduziu e a sua qualidade piorou. A redução
da sua qualidade ao longo dos anos tem acontecido de forma lenta e gradual, mas
recentemente, a intensificação das atividades industriais, a ampliação dos
processos de mineração no Estado, a ausência de uma legislação protetiva efetiva
dos recursos hídricos e as tragédias com barragens que tem ocorrido promoveram não
apenas uma redução da qualidade da água mas uma impossibilidade de seu uso considerando
o grau de poluição aguda, principalmente com o rompimento das barragens de
rejeitos.
No rastro
deste impacto surgem os conflitos. Em 2015 com o rompimento da barragem de
Mariana e a contaminação das águas do rio Doce, a maior cidade da bacia do Rio
Doce em relação ao tamanho de sua população, Governador Valadares, totalmente
dependente do rio Doce viveu um intenso conflito pela água. Em uma região de
elevada temperatura e com poucas chuvas as pessoas ficaram sem água para até
mesmo para beber. Alguém já viu caminhão pipa escoltado pela polícia? Alguém já
viu idosos e crianças serem roubados nas ruas, mas não roubo de relógio,
carteiras ou celulares, mas roubo de garrafas de água mineral com poucos
litros? Alguém já viu pessoas implorando
aos militares, separados por uma tela de arame, um pouco de água porque estava
fraco e com muita sede e sem ter onde buscar água para beber? Alguém já presenciou
um rio com toneladas de peixes mortos exalando um mal cheiro insuportável por
conta da decomposição destes animais?
Dizem que o
brasileiro tem memória curta mas quem vive a tragédia nunca esquece.
Infelizmente deveríamos aprender com as tragédias como ocorre com os acidentes aéreos
onde os peritos buscam as causar para que ela não se repita. No Brasil isto não
acontece. Ocorreu em Mariana e a mesma tragédia aconteceu em Brumadinho. Na
realidade, pior ainda pois morreram centenas de pessoas. Enquanto os poderes econômico
e político predominarem no país, dificilmente mudaremos este quadro e os conflitos
pela água tenderão a aumentar cada vez mais.
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