Iniciamos este texto pelo título: “terra,
planeta água”. Este é o título de uma música do cantor e compositor Guilherme
Arantes e foi apresentada ao público no Festival MPB Shell de 1981. A trinta e
sete anos atrás, Guilherme Arantes expressou em uma música todo o seu
sentimento por este líquido essencial para a vida. Cantou o ciclo das águas no
planeta e a sua importância para todos nós, mas que também pode trazer destruição
pelas enchentes e inundações. Uma música fantástica concebida em um período onde
não havia muita preocupação no país em relação a este patrimônio natural.
Apenas para fins comparativos, a Política Nacional de Recursos Hídricos no
Brasil foi sancionada em 1997, dezesseis anos depois da apresentação da música
no festival.
Realmente,
o planeta terra é um planeta água com 67% de sua superfície coberta por mares.
Mas temos também água nos rios, lagos, geleiras, águas subterrâneas, nos solos
e nas rochas. O Brasil é um país, de certa forma, privilegiado. Temos 15% de
toda a água doce superficial do planeta e os dois maiores aquíferos
subterrâneos em quantidade de água: o aquífero Guarani localizado nas regiões Centro
Oeste, Sudeste e Sul do país e o Walter do Chão, localizado na região amazônica.
Mas, apesar de termos 15% de toda água de rios e lagos do planeta, temos duas questões
para serem analisadas. A primeira é que a quantidade de água dos rios e lagos
do planeta é muito pequena, apenas 0,0025% ou seja, temos 15% de quase nada.
Outro ponto está associado a distribuição da água. Cerca de 80% dela está na região
Norte do Brasil. As regiões mais populosas como o Nordeste e Sudeste apresentam
um grande déficit hídrico. Para agravar a situação, a população destas regiões tem
aumentado anualmente assim como o consumo de água, mas na contramão, temos uma redução
da oferta de água pela natureza com redução das chuvas e da vazão dos rios.
A redução das chuvas, da sua distribuição e
que, por consequência acarreta a redução da vazão dos rios, é em grande parte,
causada pelo homem; pelo impacto que promove no meio ambiente. Estes impactos alteram
significativamente o ciclo hidrológico de diversas regiões do Brasil. No país,
os regimes climáticos são bem definidos com períodos chuvosos e períodos secos.
Para que a água esteja disponível no período seco do ano, ela precisa ser
armazenada no período chuvoso, e a grande caixa d’água da natureza chama-se
solo. Mas para que ela, a água, possa penetrar no solo, ser armazenada nos aquíferos
subterrâneos e disponibilizada lentamente para rios e lagos através das
nascentes, precisamos da vegetação que protege este solo e permite que a água
penetre até as camadas mais profundas. Quando retiramos as florestas e matas de
lugares estratégicos como nas áreas mais íngremes e topo de morros, os solos
sofrem intensos processos de erosão, perdendo a capacidade de armazenar água,
comprometendo a atividade agropecuária e o abastecimento público. No Vale do
Rio Doce e Mucuri é comum cidades decretarem estado de emergência ou calamidade
por conta da falta de água no período seco.
A água não desaparecerá do planeta. Ela continuará
por aqui por mais alguns milhões de anos, mas se não revertermos o quadro de
degradação ambiental que vivemos, em breve será muito difícil viver em
determinadas áreas do Brasil. E não podemos esquecer que a nossa região está na
lista.
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